O texto dissertativo-argumentativo (mais conhecido como redação) é geralmente solicitado em provas de concursos, vestibulares e Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Nesse tipo de texto, o candidato precisa defender um ponto de vista, utilizando para isso argumentos válidos.
No caso específico do Enem, é exigido ainda que o candidato apresente propostas de solução para os problemas levantados na argumentação.
Características do texto argumentativo-dissertativo
Normalmente o texto dissertativo-argumentativo trata de assuntos socialmente relevantes e, especialmente no Enem, seu tema envolve questões relacionadas ao Brasil e a problemas do país.
As principais características do texto argumentativo-dissertativo são:
- Presença de uma tese (ponto de vista), normalmente no primeiro parágrafo.
- Desenvolvimento com argumentos que comprovem a tese.
- Fundamentação dos argumentos a partir de conhecimentos de diversas áreas.
- Conclusão em forma de síntese ou com propostas de solução para o(s) problema(s) apresentado(s).
- Uso da norma-padrão da língua portuguesa.
- Emprego correto dos elementos de coesão e coerência da língua portuguesa.
Estrutura do texto argumentativo-dissertativo
O texto argumentativo-dissertativo apresenta estrutura rígida, dividida em três partes fundamentais: introdução, argumentação (ou desenvolvimento) e conclusão.
- Introdução – É a parte inicial do texto, que se divide em duas subpartes: apresentação do tema e explicitação da tese a ser defendida. A tese é o ponto de vista/opinião do autor do texto acerca do tema proposto.
- Argumentação – Também chamada de desenvolvimento, contém a defesa da tese por meio de argumentos, os quais devem confirmar o ponto de vista do autor. Um argumento é composto de duas partes: a fundamentação e a análise do fundamento. Na fundamentação, o autor deve provar que seu ponto de vista está correto, utilizando para isso, por exemplo, citações de autoridade, referências históricas, conceitos teóricos consagrados ou notícias publicadas em jornais reconhecidos. Na análise do fundamento, o autor deve demonstrar a relação entre a prova levantada e a tese proposta.
- Conclusão – É a parte final do texto, que pode ser em forma de síntese ou de proposta(s) de solução. Na conclusão por síntese, o autor repete os argumentos resumidamente e conclui o texto afirmando a veracidade da tese; na conclusão com propostas de solução, o autor deve retomar o(s) problema(s) discutido(s) na argumentação e propor intervenções que eliminem ou diminuam o(s) problema(s). As soluções sugeridas devem ser detalhadas, com indicação dos seus possíveis agentes (quem executará), ações (o que será feito), meios (como a solução será produzida) e efeitos (o que será gerado com a aplicação da solução).
Como fazer um bom texto dissertativo-argumentativo
O primeiro passo para construir um bom texto dissertativo-argumentativo é fazer um projeto de texto, escrevendo e preenchendo, em uma folha à parte, os seguintes tópicos:
- Tema: escreva a frase temática inteira, não a resuma.
- Tese: escreva qual será o ponto de vista defendido no texto.
- Argumentos: escreva os fundamentos que serão usados em cada argumento (é importante que a dissertação contenha pelo menos dois argumentos); depois diga como cada fundamento comprova a tese acima citada.
- Propostas de solução: no caso do Enem, é preciso sugerir formas de diminuir ou acabar com os problemas discutidos no texto. Apresente essas soluções, detalhando as ações, os agentes, os meios e as consequências para cada solução.
Sugestões para escrever melhor
- Pratique sempre a escrita de textos dissertativo-argumentativos e, se possível, peça a algum profissional que corrija seus textos.
- Esteja sempre atualizado a respeito da situação do Brasil e do mundo para poder ter argumentos na hora de defender seus pontos de vista.
- Estude a língua-padrão e preste atenção à forma como os textos são escritos, pois nós aprendemos a escrever melhor quando lemos textos de qualidade.
- Tenha autoconfiança. Acredite em si. Persista, pois a perfeição vem com a prática.
Exemplos de texto dissertativo-argumentativo
Texto 1
Este texto, escrito por Rylla Lídice Varela de Melo, do Rio Grande do Norte, alcançou nota 1000 no Enem de 2018,
“A obra musical “Admirável Chip Novo”, da cantora Pitty, retrata a manipulação das ações humanas em razão do uso das tecnologias, que findam por influenciar o comportamento dos indivíduos. Não obstante, tal questão transcende a arte e mostra-se presente na realidade brasileira através da filtragem de dados na internet e sua utilização como ferramenta de determinação de atitudes, consequência direta do interesse do mercado globalizado e da vulnerabilidade dos usuários. Assim, torna-se fundamental a discussão desses aspectos, a fim do pleno funcionamento da sociedade.
Convém ressaltar, a princípio, o estabelecimento do comércio virtual e sua contribuição para a continuidade da problemática. Quanto a esse fator, é válido considerar a alta capacidade publicitária da web, bem como sua consolidação enquanto espaço mercantil – possibilitador de compra e venda de produtos. Sob esse aspecto, o célebre géografo, Milton Santos, afirma a existência de relação entre o desenvolvimento técnico-científico e as demandas da globalização, justificando, assim, a constante oferta de conteúdos culturais e comerciais que podem ser adquiridos pelos usuários, de modo a fortalecer o mercado mundial e o capitalismo.
Paralelo a isso, a imperícia social vinculada ao déficit em letramento digital fomenta a perpetuação do impasse. Nesse viés, as instituições educacionais ainda não são eficazes na educação tecnológica, por não contarem com estrutura profissional e material voltado ao tema. Ademais, a formação de indivíduos vulneráveis possibilita a ação do mecanismo que pode transformar comportamentos, tornando-os passíveis de alienação. Essa conjuntura contraria o Estado proposto pelo filósofo John Locke – assegurador de liberdade -, gerando falsa sensação de autonomia e expondo internautas a um ambiente não transparente, em que decisões são previamente programadas por outrem.
Em suma, faz-se imprescindível a tomada de medidas atenuantes ao entrave abordado. Posto isso, concerne ao Estado, mediante os Ministérios da Educação e Ciência e Tecnologia, a criação de um plano educacional que vise a elucidar a população quanto aos riscos da navegação na rede e à necessidade de adaptação aos novos instrumentos digitais. Tal projeto deve ser instrumentalizado na oferta de aparelhos tecnológicos às escolas, para a promoção de palestras e aulas práticas sobre o uso da tecnologia, mediadas por técnicos e professores da área, objetivando a qualificação dos usuários e a prevenção de casos de manipulação de atitudes. Dessa maneira, o Brasil poderá garantir a liberdade de seus cidadãos e o Estado lockeano poderá ser consolidado.”
Texto 2
Este texto, escrito por Isabella Barros Castelo Branco, do Piauí. alcançou nota mil na prova no Enem de 2017, que teve como tema “Desafios para a formação educacional de surdos no Brasil”.
“Na mitologia grega, Sísifo foi condenado por Zeus a rolar uma enorme pedra morro acima eternamente. Todos os dias, Sísifo atingia o topo do rochedo, contudo era vencido pela exaustão, assim a pedra retornava à base. Hodiernamente, esse mito assemelha-se à luta cotidiana dos deficientes auditivos brasileiros, os quais buscam ultrapassar as barreiras as quais os separam do direito à educação. Nesse contexto, não há dúvidas de que a formação educacional de surdos é um desafio no Brasil o qual ocorre, infelizmente, devido não só à negligência governamental, mas também ao preconceito da sociedade.
A Constituição cidadã de 1988 garante educação inclusiva de qualidade aos deficientes, todavia o Poder Executivo não efetiva esse direito. Consoante Aristóteles no livro “Ética a Nicômaco”, a política serve para garantir a felicidade dos cidadãos, logo se verifica que esse conceito encontra-se deturpado no Brasil à medida que a oferta não apenas da educação inclusiva, como também da preparação do número suficiente de professores especializados no cuidado com surdos não está presente em todo o território nacional, fazendo os direitos permanecerem no papel.
Outrossim, o preconceito da sociedade ainda é um grande impasse à permanência dos deficientes auditivos nas escolas. Tristemente, a existência da discriminação contra surdos é reflexo da valorização dos padrões criados pela consciência coletiva. No entanto, segundo o pensador e ativista francês Michel Foucault, é preciso mostrar às pessoas que elas são mais livres do que pensam para quebrar pensamentos errôneos construídos em outros momentos históricos. Assim, uma mudança nos valores da sociedade é fundamental para transpor as barreiras à formação educacional de surdos.
Portanto, indubitavelmente, medidas são necessárias para resolver esse problema. Cabe ao Ministério da Educação criar um projeto para ser desenvolvido nas escolas o qual promova palestras, apresentações artísticas e atividades lúdicas a respeito do cotidiano e dos direitos dos surdos. – uma vez que ações culturais coletivas têm imenso poder transformador – a fim de que a comunidade escolar e a sociedade no geral – por conseguinte – conscientizem-se. Desse modo, a realidade distanciar-se-á do mito grego e os Sísifos brasileiros vencerão o desafio de Zeus.”
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